"Levanta-te e anda!"
Jesus Cristo falava. E quando ele falava,
A alma e o coração daquele que o escutava
Se enchiam de esperança. O seu verbo candente
Era tão incisivo, era tão eloquente,
Tão sincero e tão bom, que o triste e o desgraçado
Logo encontravam nêle o remédio adequado...
Para o peito sem fé, raiava o sol da crença;
E para cada ação havia uma sentença
Que era a expressão fiel da justiça e do amor.
Até o criminoso, o trânsfuga e o impostor,
Ouvindo a sua voz, voltavam convertidos,
Dos seus caminhos maus, dos erros cometidos...
Ninguém lhe resistia às argumentações
Do seu lógico ensino e das suas lições...
Jesus Cristo falava. E, quando ele falava,
A própria natureza humílima O escutava.
A notícia espalhou-se e foi se avolumando:
- Jesus estava ali, ensinando e curando: -
Ninguém mais resistiu: tal como se encontrava,
Correu para o lugar onde o Senhor estava.
A casa onde ficara, apesar de espaçosa,
Não podia conter a turba pressurosa
Que procurava ouvi-lo ou simplesmente vê-lO
E, em seu grande poder divino, conhecê-lO.
Havia no lugar um pobre paralítico,
Que vivia a esmolar. O seu corpo raquítico
A todos repugnava; ele também soubera
Que Cristo estava ali.
Ficou, por isso, à espera
Que, cedo ou tarde, o Mestre a seu lado chegasse,
Para que, resoluto, a seus pés se lançasse,
Em súplica sincera... E Jesus não chegava...
O povo ia passando... E ninguém o ajudava...
Ah! se pudesse andar! Ah! se pudesse andar!
Haveria de ser o primeiro a chegar
À frente do Senhor e, com solicitude,
Pediria-lhe então a bênção da saúde.
E o povo ia passando... e nem dava atenção
À sua desgraçada e triste condição...
Se ele pudesse andar...
Não podia, entretanto;
E por isso apelou, na angústia de seu pranto:
- "Ajudem, por favor, este pobre aleijado!
Eu quero ver Jesus! Eu quero ser curado!"
Porém, de quem passava, a vontade suprema
Era achar solução para o próprio problema.
Nenhum cego, ou leproso, ou coxo, ou surdo, ou doente
Desejava perder o ensejo grato e ingente,
Como aquele, de achar na bondade do Mestre
A cura radical para o seu mal terrestre.
Em circunstâncias tais, os minutos corriam...
Nem os amigos seus ali apareciam...
Por que sofria assim? Talvez fosse culpado
De sua condição, por erros do passado...
Mas... aos poucos sentiu voltar-lhe a fé e a calma...
Por que desesperar? E afirmava à sua alma:
Que haveria de ir à presença de Cristo
E voltaria são; tinha a certeza disto!...
A resposta de Deus não se fêz esperar;
Os amigos que sempre o vinham consolar
Chegaram; que alegria em seus olhos brilhava!
Era a esperança em Deus que outra vez o animava:
-"Vamos depressa, amigo! o Mestre já chegou!"
(Disseram-lhe) - "Depressa! A muitos já curou;
Vai curar-te também! Nada de indecisão!..."
Sem algo mais dizer, ergueram-no do chão,
Na cama em que se achava; e o levaram depressa
Para avistar Jesus. Cumpria-se a promessa,
A promessa que Deus um dia lhe fizera
Numa certa manhã rósea de primavera,
Quando vendo o céu um pássaro a voar,
Lhe pedira, chorando, o milagre de andar.
Mas ao chegarem lá, cercava todo o prédio
Enorme multidão que, num constante assédio,
Tentava penetrar na sala onde o Senhor,
Pregava a todo mundo o evangelho do amor.
Param; pensam um pouco; o instante era bem crítico;
Mas, pondo os olhos seus no olhar do paralítico,
Notaram-no brilhante, e alegre, e decidido,
No mesmo ânimo forte e no mesmo pedido:
-"Amigos! por favor, me conduzam a Cristo!
Ele há de me curar! Tenho a certeza disto!"
Diante de tanta fé, de apelo tão ardente,
Voltaram-se à investida; e, olhando, de repente,
O telhado da casa, acharam logo o meio
De chegar a Jesus; subiram sem receio;
Destelharam o teto e, por essa abertura,
(Tendo cada uma ponta a u'a corda segura)
A cama do infeliz desceram com cuidado,
À frente do Senhor. Haviam triunfado...
De amigos tão leais ante gesto tão nobre,
O povo ali reunido olhou curioso o pobre;
E estático ficou... No entanto, Jesus Cristo,
Na sua onisciência, o tinha ouvido e visto
Muito antes que alguém o houvesse percebido,
Desde o primeiro anseio ao primeiro pedido,
Desde o primeiro gesto ao esfôrço derradeiro,
Para chegar ali confiante e sobranceiro...
Por isso, lhe falou: - "Homem! os teus pecados,
Diante da tua fé, são todos perdoados!" -
"Como?! (Pensaram logo escribas, fariseus)
Quem pode perdoar pecados, senão Deus?" -
Mas Jesus, que conhece os corações, bem via
A crença e a fé que em si aquele homem nutria,
Assim como o ódio atroz que muitos lhe votavam;
Por isso, perguntou aos que o recriminavam:
-"Que é mais fácil dizer: 'Perdôo os teus pecados!"
Ou, 'Levanta-te e anda?' Ora, em vossos cuidados,
Pra que saibais que eu posso as faltas absolver,
E tenho sobre a terra o mais amplo poder",
(Olhando para o enfermo agradecido) manda:
- "Homem! digo-te: toma a tua cama e anda!"
Ouvindo a ordem do Mestre, o enfermo, confiante,
Ergueu-se sem receio; e feliz, e exultante,
Saiu glorificando a Deus por toda parte,
Da gratidão erguendo o límpido estandarte,
Para a todos dizer: - "O Mestre me curou!
Estou forte, estou bom! Sim, Jesus me salvou!
Vinde todos comigo o seu nome exaltar,
Que o Filho da Promessa acaba de chegar!"
Povo do meu país, cujo momento crítico
Te transformou na vida em pobre paralítico,
Na imobilização do catre do pecado,
Jesus te envia agora o cândido recado
A fim de te salvar!...
Ouve! Ele está falando!
E quando ele nos fala ao coração, sangrando
Sobre os braços da cruz, é como o som dum hino
Que nos revela Deus no seu amor divino...
Transforma a tua angústia e a tua ansiedade
Na crença que garante uma felicidade!...
Inicia hoje mesmo a investida que é
A conquista do céu pela porta da fé!
Jesus está falando! E quando ele nos fala,
Como um doce perfume a esperança trescala!
Ouve: ele está falando a todo coração:
- "Ó levanta-te e anda!"
É A VOZ DA REDENÇÃO!
Icaraí, novembro de 1955
Jesus Cristo falava. E quando ele falava,
A alma e o coração daquele que o escutava
Se enchiam de esperança. O seu verbo candente
Era tão incisivo, era tão eloquente,
Tão sincero e tão bom, que o triste e o desgraçado
Logo encontravam nêle o remédio adequado...
Para o peito sem fé, raiava o sol da crença;
E para cada ação havia uma sentença
Que era a expressão fiel da justiça e do amor.
Até o criminoso, o trânsfuga e o impostor,
Ouvindo a sua voz, voltavam convertidos,
Dos seus caminhos maus, dos erros cometidos...
Ninguém lhe resistia às argumentações
Do seu lógico ensino e das suas lições...
Jesus Cristo falava. E, quando ele falava,
A própria natureza humílima O escutava.
A notícia espalhou-se e foi se avolumando:
- Jesus estava ali, ensinando e curando: -
Ninguém mais resistiu: tal como se encontrava,
Correu para o lugar onde o Senhor estava.
A casa onde ficara, apesar de espaçosa,
Não podia conter a turba pressurosa
Que procurava ouvi-lo ou simplesmente vê-lO
E, em seu grande poder divino, conhecê-lO.
Havia no lugar um pobre paralítico,
Que vivia a esmolar. O seu corpo raquítico
A todos repugnava; ele também soubera
Que Cristo estava ali.
Ficou, por isso, à espera
Que, cedo ou tarde, o Mestre a seu lado chegasse,
Para que, resoluto, a seus pés se lançasse,
Em súplica sincera... E Jesus não chegava...
O povo ia passando... E ninguém o ajudava...
Ah! se pudesse andar! Ah! se pudesse andar!
Haveria de ser o primeiro a chegar
À frente do Senhor e, com solicitude,
Pediria-lhe então a bênção da saúde.
E o povo ia passando... e nem dava atenção
À sua desgraçada e triste condição...
Se ele pudesse andar...
Não podia, entretanto;
E por isso apelou, na angústia de seu pranto:
- "Ajudem, por favor, este pobre aleijado!
Eu quero ver Jesus! Eu quero ser curado!"
Porém, de quem passava, a vontade suprema
Era achar solução para o próprio problema.
Nenhum cego, ou leproso, ou coxo, ou surdo, ou doente
Desejava perder o ensejo grato e ingente,
Como aquele, de achar na bondade do Mestre
A cura radical para o seu mal terrestre.
Em circunstâncias tais, os minutos corriam...
Nem os amigos seus ali apareciam...
Por que sofria assim? Talvez fosse culpado
De sua condição, por erros do passado...
Mas... aos poucos sentiu voltar-lhe a fé e a calma...
Por que desesperar? E afirmava à sua alma:
Que haveria de ir à presença de Cristo
E voltaria são; tinha a certeza disto!...
A resposta de Deus não se fêz esperar;
Os amigos que sempre o vinham consolar
Chegaram; que alegria em seus olhos brilhava!
Era a esperança em Deus que outra vez o animava:
-"Vamos depressa, amigo! o Mestre já chegou!"
(Disseram-lhe) - "Depressa! A muitos já curou;
Vai curar-te também! Nada de indecisão!..."
Sem algo mais dizer, ergueram-no do chão,
Na cama em que se achava; e o levaram depressa
Para avistar Jesus. Cumpria-se a promessa,
A promessa que Deus um dia lhe fizera
Numa certa manhã rósea de primavera,
Quando vendo o céu um pássaro a voar,
Lhe pedira, chorando, o milagre de andar.
Mas ao chegarem lá, cercava todo o prédio
Enorme multidão que, num constante assédio,
Tentava penetrar na sala onde o Senhor,
Pregava a todo mundo o evangelho do amor.
Param; pensam um pouco; o instante era bem crítico;
Mas, pondo os olhos seus no olhar do paralítico,
Notaram-no brilhante, e alegre, e decidido,
No mesmo ânimo forte e no mesmo pedido:
-"Amigos! por favor, me conduzam a Cristo!
Ele há de me curar! Tenho a certeza disto!"
Diante de tanta fé, de apelo tão ardente,
Voltaram-se à investida; e, olhando, de repente,
O telhado da casa, acharam logo o meio
De chegar a Jesus; subiram sem receio;
Destelharam o teto e, por essa abertura,
(Tendo cada uma ponta a u'a corda segura)
A cama do infeliz desceram com cuidado,
À frente do Senhor. Haviam triunfado...
De amigos tão leais ante gesto tão nobre,
O povo ali reunido olhou curioso o pobre;
E estático ficou... No entanto, Jesus Cristo,
Na sua onisciência, o tinha ouvido e visto
Muito antes que alguém o houvesse percebido,
Desde o primeiro anseio ao primeiro pedido,
Desde o primeiro gesto ao esfôrço derradeiro,
Para chegar ali confiante e sobranceiro...
Por isso, lhe falou: - "Homem! os teus pecados,
Diante da tua fé, são todos perdoados!" -
"Como?! (Pensaram logo escribas, fariseus)
Quem pode perdoar pecados, senão Deus?" -
Mas Jesus, que conhece os corações, bem via
A crença e a fé que em si aquele homem nutria,
Assim como o ódio atroz que muitos lhe votavam;
Por isso, perguntou aos que o recriminavam:
-"Que é mais fácil dizer: 'Perdôo os teus pecados!"
Ou, 'Levanta-te e anda?' Ora, em vossos cuidados,
Pra que saibais que eu posso as faltas absolver,
E tenho sobre a terra o mais amplo poder",
(Olhando para o enfermo agradecido) manda:
- "Homem! digo-te: toma a tua cama e anda!"
Ouvindo a ordem do Mestre, o enfermo, confiante,
Ergueu-se sem receio; e feliz, e exultante,
Saiu glorificando a Deus por toda parte,
Da gratidão erguendo o límpido estandarte,
Para a todos dizer: - "O Mestre me curou!
Estou forte, estou bom! Sim, Jesus me salvou!
Vinde todos comigo o seu nome exaltar,
Que o Filho da Promessa acaba de chegar!"
Povo do meu país, cujo momento crítico
Te transformou na vida em pobre paralítico,
Na imobilização do catre do pecado,
Jesus te envia agora o cândido recado
A fim de te salvar!...
Ouve! Ele está falando!
E quando ele nos fala ao coração, sangrando
Sobre os braços da cruz, é como o som dum hino
Que nos revela Deus no seu amor divino...
Transforma a tua angústia e a tua ansiedade
Na crença que garante uma felicidade!...
Inicia hoje mesmo a investida que é
A conquista do céu pela porta da fé!
Jesus está falando! E quando ele nos fala,
Como um doce perfume a esperança trescala!
Ouve: ele está falando a todo coração:
- "Ó levanta-te e anda!"
É A VOZ DA REDENÇÃO!
Icaraí, novembro de 1955
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