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O Cego de Jericó (Mário Barreto França)

O cego de Jericó   (Mário Barreto França) Perto de Jericó, à margem do caminho, Costumava sentar-se, esmolando sozinho, O cego Bartimeu. Ah! Ele nunca vira A paisagem sorrir sob um céu de safira, Os rebanhos pastando em campos verdejantes E os olhos de seu pai, de bençãos transbordantes, Porque era, infelizmente, um cego de nascença, Mergulhado na dor de sua treva imensa... E ele, no íntimo dalma, exclamava: _ Quem dera Achar esse Jesus que milagres opera! Pois tanto imploraria e choraria tanto, Que ela havia de ter piedade de meu pranto E, certo, me daria a luz para para os meus olhos, Guiando-me na vida, entre tantos escolhos!... Certo dia, porém, ele estava esmolando, Quando ouviu um rumor de turbas caminhando. Prestou toda a atenção e descobriu, sem custo, Que era Jesus quem vinha - o poderoso e justo Rabi. E, ao pressentir que perto ele se achava, Na esperança de ser escutado, gritava: _ Ó filho de Davi tem piedade de mim, E livra-me, Senhor,...

"Levanta-te e anda!" de Mário Barreto França

"Levanta-te e anda!" Jesus Cristo falava. E quando ele falava, A alma e o coração daquele que o escutava Se enchiam de esperança. O seu verbo candente Era tão incisivo, era tão eloquente, Tão sincero e tão bom, que o triste e o desgraçado Logo encontravam nêle o remédio adequado... Para o peito sem fé, raiava o sol da crença; E para cada ação havia uma sentença Que era a expressão fiel da justiça e do amor. Até o criminoso, o trânsfuga e o impostor, Ouvindo a sua voz, voltavam convertidos, Dos seus caminhos maus, dos erros cometidos... Ninguém lhe resistia às argumentações Do seu lógico ensino e das suas lições... Jesus Cristo falava. E, quando ele falava, A própria natureza humílima O escutava. A notícia espalhou-se e foi se avolumando: - Jesus estava ali, ensinando e curando: - Ninguém mais resistiu: tal como se encontrava, Correu para o lugar onde o Senhor estava. A casa onde ficara, apesar de espaçosa, Não podia conter a turba pressurosa Que procu...

"Môça, me dá uma rosa!" de Mário Barreto França

"Môça, me dá uma rosa!" de Mário Barreto França        (Adaptação, de um conto radiofonizado, cujo autor não me foi possível identificar.) Era um triste contraste aquêle, distinguido Numa encosta escarpada e num vale florido: Lá no morro o barraco ao vento se inclinava; No vale, um palacete, entanto, se enfeitava De rosas,  de jasmins, de pássaros joviais Que adejavam, cantando, os lindos roseirais... O barraco de zinco e o bangalô de pedra - Onde a miséria mora e onde a fartura medra - Eram naquela parte estreita da paisagem Antônimos cruéis que na louca voragem Da vida singular, excêntrica ou profana, Confundem na certeza a indagação humana: Qual a causa que leva um dia a Onipotência A dar rumo diverso a cada uma existência, Que às vezes se coloca em destaque chocante, Como revolta muda ou protesto gritante? Por que, sem ter noção ainda do pecado, Há de nascer alguém surdo, cego, aleijado? Por que será, meu Deus, q...